O Touro e as Rãs


Enquanto dois touros furiosamente lutavam pela posse exclusiva de certa campina, as rãs novas, á beira do brejo, divertiam-se com a cena.

Uma rã velha, porém, suspirou.

— Não se riam, que o fim da disputa vai ser doloroso para nós.

— Que tolice! exclamaram as rãsinhas. Você está caducando, rã velha!

A rã velha explicou-se:

— Brigam os touros. Um deles ha de vencer e expulsar da pastagem o vencido. Que acontece ? O animalão surrado vem meter-se aqui em nosso brejo e ai de nós!...

Assim foi. O touro mais forte, á força de marradas, encurralou no brejo o mais fraco, e as rãsinhas tiveram de dizer adeus ao sossego. Inquietas sempre, sempre atropeladas, raro era o dia em que não morria alguma sob os pés do bicharoco.


E’ sempre assim: brigam os grandes, pagam o pato os
pequenos.

— Estou achando isto muito certo, disse Narizinho. Os fortes sempre se arrumam lá entre si — e os fracos pagam o pato.

— E’ a lei da vida, minha filha. A função do fraco é pagar o pato. Nas guerras, por exemplo, brigam os grandes estadistas — mas quem vai morrer nas batalhas são os pobres soldados que nada têm com a coisa.

— Pagar o pato! Donde viria essa expressão?

— Eu sei, berrou Emilia. Veio duma fabulazinha que vou escrever. “Dois fortes e um fraco foram a um restaurante comer um pato assado. Os dois fortes comeram todo o pato, e deram a conta para o fraco pagar...”

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.