Demandou o Cão à Ovelha certa cantidade de paõ, que dizia aver lhe emprestado, ou dado na sua maõ em deposito. Ella negou avelo recebido. Dà o Cam tres testemunhas, convem a saber, hum Lobo, hum Buytre, & hum Milhano, os quaes todos jà vinhaõ com o Cão sobornados, & apostados a jurar em seu favor, como de effeito juraraõ, dizendo que elles viram receber a Ovelha o paõ, que se lhe pedia. Vendo a prova, condena o juiz a que o pagasse, & como ella não tivesse por onde, lhe foi forçado trosquiar o vello & vendelo[1]

ante tempo, do que pagou o que não comera, e ficou núa padecendo as neves e frios do inverno.


MORALIDADE


Parece que já, no tempo que Esopo compoz esta Fabula, adivinhava o que hoje passa em muitos lugares, onde roubão aos pobres e fracos as honras e fazendas, com falsos testemunhos de homens desalmados, conjurados para roubarem o alheio. Que em nenhum lugar, contra bons homens e ovelhas faltão Lobos e Milhanos, que os dispão e lhes chupem o sangue.

  1. A página está em falta, foi usado o texto de uma versão anterior.