Um cavalleiro vinha chicoteando as mutucas apinhadas no pescoço da cavalgadura. Volta e meia plaf! uma lambada e um insecto de menos.
Mas o homem só chicoteava os insectos gordalhudos, pesadões, já empanturrados de sangue.
Em certo ponto o cavallo perdeu a paciencia e disse:
— Julgas que me prestas um serviço e no entanto....
— No entanto quê, cavallo? Pois livro-te das mutucas e inda não estás contente.
— Beneficio seria se matasses as magras e poupasses as gordas. Porque estas, fartas que estão, nenhum maleficio me fazem, ao passo que as outras, famintas, torturam-me sem dó. Matando só as inoffensivas, o bem que me queres fazer transforma-se em mal, porque soffro a dor da lambada e nada lucro com a morte dos bichinhos.
Quantos beneficios assim, beneficios só na apparencia!...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.