
Um cavalleiro vinha chicoteando as mutucas apinhadas no pescoço da cavalgadura. Volta e meia plaf! uma lambada e um insecto de menos.
Mas o homem só chicoteava os insectos gordalhudos, pesadões, já empanturrados de sangue.
Em certo ponto o cavallo perdeu a paciencia e disse:
— Julgas que me prestas um serviço e no entanto....
— No entanto quê, cavallo? Pois livro-te das mutucas e inda não estás contente.
— Beneficio seria se matasses as magras e poupasses as gordas. Porque estas, fartas que estão, nenhum maleficio me fazem, ao passo que as outras, famintas, torturam-me sem dó. Matando só as inoffensivas, o bem que me queres fazer transforma-se em mal, porque soffro a dor da lambada e nada lucro com a morte dos bichinhos.
Quantos beneficios assim, beneficios só na apparencia!...


Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.

