Grammatica Analytica da Lingua Portugueza/I/10
Em portuguez todos os diphthongos são pronunciados como se escrevem, isto he, fazem-se sentir os dois sons ligados, não se convertendo em hum só, como em latim em æ, œ.
Posto que os grammaticos portuguezes, e entre elles o senhor Jeronymo Soares Barboza, na sua Grammatica philosophica da lingua portugueza, publicada por ordem da Academia das Sciencias em 1822, digão que em todos os diphthongos portuguezes a voz prepositiva ou antecedente he sempre a longa e dominante, e a subjunctiva a breve, he facil mostrar ser isto hum engano palpavel, visto que em ruim, e em igual, qual, guarda, agua ou agoa, egoa ou egua, quanto, a segunda syllaba d’estes diphthongos predomina sobre a antecedente que he breve e até brevissima. Chamar syncrese ao diphthongo ua em guarda, igual, qual ; ao de ue em equestre, e ao de ui em ruim, quinquagesimo, he subtilidade frivola. Tambem he falso não haver triphthongos em portuguez, porquanto ião verbo e terminação, eia interjeição, não formão mais que huma syllaba, se bem que offereção tres sons vogaes distinctos.
Os diphthongos puros são formados de vogaes puras ; os nasaes tem huma nasal, que he sempre a primeira, excepto sendo ĩ a segunda.