Andava o rei do deserto
No seu domínio rugindo
Por saber que um caçador.
O andava perseguindo.
Entre altivo e majestoso,
Soberbo, mas sem vaidade,
Pensava o grande senhor
Que não ha leis de igualdade
Pois da caverna em que habita,
Quando ergue a estrondosa voz,
Faz tremer a selva inteira
De que é o sêr mais feroz.
Ha pouco um vil europeu,
Em negro corcel montado,
Levou-lhe todos os filhos
Depois de a mãe ter matado.
Salta sobre o cavaleiro
– Diz-se o rei dos animais,
Quer ser rival do leão!…
Pensa o rei da juba negra:
Qual tem pior coração?
O crú, que me mata a fémea,
Que deu meus filhos á morte,
Que, se me não mata a mim
E’ porque eu sou o mais forte.
Pôs-se á espreita, vingativo,
Na fúria de se pagar.
O corcel, que já vem perto,
Rincha e não quer avançar.
Então o féro animal,
No auge da indignação,
Ergue a voz que, na caverna,
Ribomba como um trovão.
Salta sobre o cavaleiro,
Rebola com êle ao chão.
Sente o homem que é pequeno
Entre as garras do leão.
E emquanto o cavalo, ao longe,
Foge em veloz galopar,
Grita, morrendo, o cristão
Na febre de se julgar:
– Matei-lhe os filhos, é justo
Que me tire o coração…
Descansa enfim o leão.