A’ Santa Thereza
Reza de manso... Toda de roxo,
A vista no tecto preza,
Como que imita a tristeza
Daquelle cirio tremulo e frouxo...
E assim, mostrando todo o desgosto
Que sobre sua alma peza,
Ella reza, reza, reza,
As mãos erguidas, pallido o rosto...
O rosto pallido, as mãos erguidas,
O olhar choroso e profundo...
Parece estar no Outro-Mundo
De outros mysterios e de outras vidas.
Implora a Christo, seu Casto Esposo,
Numa prece ou num transporte,
O termo final da Morte,
Para descanço, para repouso...
Psalmos doridos, cantos aereos,
Melodiosos gorgeios
Roçam-lhe os ouvidos, cheios
De mysticismos e de mysterios...
Reza de manso, reza de manso,
Implorando ao Casto Esposo
A morte, para repouso,
Para socego, para descanço
D’alma e do corpo que se consomem,
Num desanimo profundo,
Ante as miserias do Mundo,
Ante as miserias tão baixas do Homem!
Quanta tristeza, quanto desgosto,
Mostra na alma aberta e franca,
Quando fica, branca, branca,
As mãos erguidas, pallido o rosto...
O rosto pallido, as mãos erguidas,
O olhar choroso e profundo,
Parece estar no Outro-Mundo
De outros mysterios e de outras vidas...