V
De joelhos

A’ Santa Thereza

Reza de manso... Toda de roxo,
  A vista no tecto preza,
  Como que imita a tristeza
Daquelle cirio tremulo e frouxo...

E assim, mostrando todo o desgosto
  Que sobre sua alma peza,
  Ella reza, reza, reza,
As mãos erguidas, pallido o rosto...

O rosto pallido, as mãos erguidas,
  O olhar choroso e profundo...
  Parece estar no Outro-Mundo
De outros mysterios e de outras vidas.

Implora a Christo, seu Casto Esposo,
  Numa prece ou num transporte,
  O termo final da Morte,
Para descanço, para repouso...

Psalmos doridos, cantos aereos,
  Melodiosos gorgeios
  Roçam-lhe os ouvidos, cheios
De mysticismos e de mysterios...

Reza de manso, reza de manso,
  Implorando ao Casto Esposo
  A morte, para repouso,
Para socego, para descanço

D’alma e do corpo que se consomem,
  Num desanimo profundo,
  Ante as miserias do Mundo,
Ante as miserias tão baixas do Homem!

Quanta tristeza, quanto desgosto,
  Mostra na alma aberta e franca,
  Quando fica, branca, branca,
As mãos erguidas, pallido o rosto...

O rosto pallido, as mãos erguidas,
  O olhar choroso e profundo,
  Parece estar no Outro-Mundo
De outros mysterios e de outras vidas...