Memórias duma Mulher da Época/A idade do homem

A idade
do homem


 

Decididamente, minha querida Aninhas, as nossas opiniões divergem sempre que se trata da melhor idade do homem ― que, por seu turno, filosofa sobre a melhor idade da mulher... Tu preferes o entusiasmo, o entrain dos 25 anos; eu opto, sem hesitar, pela calma, pelo raffinement dos 40. Não me refiro, certamente, aos quarenta anos apopléticos de teu tio Gaspar, nem ás quarenta e cinco mirradas primaveras de teu padrinho Luiz ― como, sem duvida, tu não pretendes exemplificar a tua preferência, apontando-me certos rapazes-velhos a que a doença fisica ou moral rouba a frescura, a vivacidade do corpo ou da alma.

Os homens não são apenas máus e péssimos, como já alguem disse ― porque tambem os há bons. Poucos, é certo ― e tão poucos que nem tu nem eu conhecemos um só!... Mas, enfim, há-os. E se aos 25 anos o homem é bom e generoso, aos quarenta a sua bondade e a sua generosidade, fertilisadas pela experiência da vida, pelo conhecimento e pela compreensão preensão da dôr humana, muito mais se desenvolveram e frutificaram.

Se é tolo, as lições da vida ter-lhe-hão atenuado, muito ou pouco, a primitiva estulticie e, seja como for, vale com certeza mais do que antes; se é espirituoso, a sua verve, ilustrada pela pratica do mundo e pela observação dos factos, terá adquirido mais finura e maior maleabilidade.

Se é amoroso ― de largo proveito lhe terá sido uma mocidade vivida em honra de Eros e mais amplos se tornam os seus talentos de galanteador. Quando máu, é possivel que os anos lhe tenham quebrado os impetos ruins e, quando péssimo, ficará sendo apenas máu. Assim, querida Aninhas, em minha opinião os homens de 40 anos, são, em todos os casos, preferiveis aos de vinte e cinco, a idade ingrata de Adão...

 

Lisboa, 1924 (?)