Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 19
me e do que succedeu
Ao pé da ilha onde me aprisionaram existe uma ilhota em que se aninham uma aves aquaticas de pennas vermelhas, a que chamam guarás. Perguntaram-me os indios se seus inimigos tupiniquins tinham estado alli aquelle anno, em caça aos filhotes dos guarás.
Respondi que sim, mas os indios o quizeram verificar, pois têm em alta estima as pennas destas aves, de que habitualmente se adornam. A particularidade dos guarás é que nascem com as pennas pardacentas; á medida que crescem tornam-se ellas roseas e por fim vermelhas.
Foram os selvagens para a ilhota na esperança de encontrar alli os passaros; mal se haviam afastado, viram chegar um grupo de tupiniquins com alguns portuguezes á frente.
O meu escravo carijó tinha conseguido fugir quando me agarraram e dera o alarma. Esses tupiniquins amigos contavam livrar-me e gritaram para os tupinambás que, se tinham coragem, viessem combatel-os. Os tupinambás voltaram com as canôas, approximaram-se dos de terra e trocaram com elles varias flechas e zarabatanas.
O murubichaba, que vinha commigo na canôa, trazia uma espingarda que lhe deram os francezes em troca de páu-brasil. Desamorrou-me as mãos e ordenou-me que atirasse contra os de terra.
Após curta escaramuça, receiosos de que viessem canôas tupiniquins a perseguil-os, fugiram com tres dos seus homens feridos. Passaram a um tiro de falconete do fortim da Bertioga, onde eu costumava estar, e ao fronteal-o puzeram-me de pé para que os meus companheiros me vissem.
O forte deu dois grandes tiros de peça, que nenum mal lkes fizeram. Tambem partiram da Bertioga varias canôas no encalço delles; os tupinambás, entretanto fugiam tão depressa que breve as canoas amigas desistiram de continuar a perseguição.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.