Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 24

CAPITULO XXIV
De como, terminada a dança, me
entregaram a Iperú-guassú

Finda que foi a dança fui entregue a Iperú-guaçú, que me manteve muito bem guardado. Trouxeram todos os idolos da taba e os collocaram em redor de mim, dizendo que os maracás lhes haviam prophetizado a captura de um portuguez.

Redargui-lhes então:

— Estes idolos não podem falar nem têm poder nenhum, pois é falso que eu seja portuguez. Sou amigo e parente dos francezes e a minha terra se chama Allemanha.

Responderam que eu mentia, pois se fosse francez não estaria entre portuguezes, tão inimigos são entre si esses dois povos como elles indios o são dos peros. Os francezes vinham todos os annos e lhes traziam facas, machados, espelhos, pentes e tesouras, que trocavam por pau-brasil, algodão, pennas, pimentas e outras mercadorias. Por isso eram elles amigos dos francezes. Já os peros nunca fizeram isso. Tinham vindo áquella terra ha muitos annos e se ligaram aos seus inimigos tupininquins. Apesar disso os tupinambás se dirigiram aos portuguezes para negociar e de boa fé penetraram em seus navios, como o fazem nos navios francezes; mas foram miseravelmente trahidos, pois quando havia um bom numero a bordo os peros os agarraram, os amarraram e os entregaram aos tupiniquins para que fossem devorados. Além disso os portuguezes lhes mataram a tiros muitos dos seus, praticando contra elles ainda outras crueldades. E pois, os portuguezes eram seus inimigos.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.