Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 25

CAPITULO XXV
De como os dois irmãos se queixavam
dos portuguezes lhes haverem
matado o pae

Os dois irmãos, meus donos, declararam que os portuguezes lhes haviam ferido seu pae num braço com um tiro, do qual veio elle a fallecer, e porisso iam agora vingar-se em mim.

Repliquei que não deviam vingar-se em quem não era portuguez; contei que tinha vindo de pouco com os hespanhoes e que naufragára, sendo essa a causa de ter ficado por lá.

Entre os indios da taba havia um moço que fora escravo dos portuguezes. Numa expedição dos tupiniquins contra os tupinambás conseguiram aquelles tomar uma aldeia destes; os velhos foram devorados e os moços trocados por mercadorias com os portuguezes, ficando o moço em questão na posse de um gallego, Antonio Agudin, morador da Bertioga. Isto tres mezes antes da minha captura. A esse mancebo tinham os tupinambás capturado, mas não o matavam por ser da mesma raça.

Perguntaram-lhe quem eu era e elle respondeu a verdade: que me conhecia, que eu viera num navio que dera á costa e que os homens desse navio se chamavam hespanhoes e eram amigos dos portuguezes.

Ouvindo eu dizer que havia francezes por perto insisti em affirmar que era amigo e parente dos francezes, e, pois, me não matassem antes que viesse algum e me reconhecesse.

Guardaram-me, então, os indios, á espera de um fiancez que andava pela região a negociar pimenta.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.