Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 30
á noite, ao luar
Na noite desse dia reuniram-se os chefes ao luar, no centro da taba; levaram-me para o meio delles, com muitos maus tratos e zombarias, e conferenciaram sobre a época do meu sacrificio.
Eu, muito triste, olhava para a lua e dizia commigo:
— O' meu Deus, ajuda-me nesta afflicção e faze que logo me veja livre deste martyrio!
Os selvagens perguntaram-me porque olhava para a lua.
— Vejo que ella está zangada, respondi.
De facto, a lua me parecia terrivel; como Deus me parecia terrivel; como tudo me parecia terrivel.
Nhaepepô-açú, que muito desejava matar-me, perguntou:
— Com quem está zangada a lua?
— Ella olha para tua cabana, respondi.
Estas palavras o irritaram, e Nhaepepô falou aspero commigo. Para cortar-lhe a colera, disse-lhe:
— Não será comtigo; ella está zangada com os escravos carijós.
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— Sim, concordou elle; sobre a cabeça dos escravos venha toda a desgraça.
Ficou nisso o incidente e não pensei mais no caso.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
