Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 33
Mambucaba e do que passou entre nós
Todos os dias, ansiosamente, eu esperava pela volta dos que tinham ido em soccorro da aldeia queimada, pois seu regresso annunciaria o meu fim.
Uma tarde ouço gritos na cabana do morubichaba ausente. Fremi, pensando que era chegado o momento terrivel. E' costume dos selvagens nunca se ausentarem por mais de quatro dias; quando regressam, os amigos os recebem com gritos como os que eu ouvira.
Sem demora veio um delles ter commigo e disse-me:
— O irmão do teu dono chegou e diz que os outros lá ficaram muito doentes.
Meu coração bateu, e pensei commigo que Deus queria fazer qualquer coisa por mim.
Não tardou muito e Alkindar-miri appareceu em minha cabana; sentou-se e principiou com lamurias, dizendo que seu irmão Nhaepepô, sua mãe e seus sobrinhos tinham cahido doentes em Mambucaba e Nhaepopô o mandava a mim para que pedisse a meu Deus que lhes restituisse a saude.
— Meu irmão, irmão, accrescentou, julga que o teu Deus está zangado com elle.
Confirmei-o nisso; meu Deus estava zangado com todos porque me queriam devorar. Disse-lhe mais:
— Affirmas ainda que eu sou portuguez e não é verdade; vae ter com Nhaepepô e dize-lhe que volte, que eu falarei a meu Deus para que todos sarem.
Alknidar allegou que seu irmão não poderia vir por estar muito doente; mas que sabia que se eu quizesse elle ficaria bom.
Affirmei que sim; que Nhaepepô melhoraria e de volta á sua cabana sararia completamente.
Com isto voltou elle a Mambucaba.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.