Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil (2ª edição)/Capítulo 52

CAPITULO LII
De quem era o capitão e do que
succedeu antes de partirmos

O navio tinha o nome de Catharina de Vattaville; seu commandante chamava-se Guillaume de Monere o piloto, François de Schantz.

Apparelhava-se o barco para regressar á França quando, em vesperas de partir, avistou um navio portuguez que sahia, depois de haver negociado com uma tribu de maracajás.

Era um navio pequeno, pertencente a um Peter Rosel e viera com intenções de me resgatar aos selvagens.

Os francezes tomaram um escaler com algumas armas de fogo e sahiram a atacal-o, levando-me comsigo para que eu lhe propuzesse rendição.

Mas quando o barco francez atacou o naviozinho, este reagiu e o repelliu; foram mortos alguns francezes e feridos varios, o mesmo acontecendo a mim, que tive um ferimento grave.

Invoquei nessa angustia o Senhor, porque já sentia o frio da morte; pedi-lhe que me conservasse a vida afim de que pudesse chegar a terra chistã e espalhar a noticia dos beneficios de que me havia cumulado.

Fui attendido, pois logo me restabeleci completamente.

No anno de 1554, ultimo de outubro, partimos do Rio de Janeiro, rumo á França. A viagem correu feliz, sempre com bom vento. Na vespera do Natal o navio deu num cardume de peixes, de que apanhamos grande quantidade.

O mesmo aconteceu na tarde do dia de Reis.

Mandou-nos o céu grande fartura de peixes, porque não tinhamos para comer senão o que o mar fornecia.

A 20 de fevereiro do anno seguinte chegamos a Honfleur, na Normandia, depois de quatro mezes passados sem avistar terra nenhuma.

Ajudei na descarga do navio e, concluida ella, a todos agradeci os beneficios recebidos e pedei ao capitão um passaporte.

Insistiu elle para que eu fizesse uma nova viagem no seu navio, mas deante das minhas escusas obteve-me um passaporte do almirante, governador da Normandia. Deu me ainda dinheiro para viagem.

Despedi-me cheio de gratidão e parti para Dieppe.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.