Ao declinar do sol, quando cessava a alegria rural e, quietos, em mangotes brancos, os rebanhos desciam das pasturas e o canto das aves morria em estribilhos tristes, José, à entrada da caverna, as mãos cruzadas sobre o cajado, contemplava o céu macio, barrado de ouro no ocidente, onde os outeiros pareciam arder como altas piras sobre as quais flamejasse um lume votivo.
Um mole, lânguido quebranto prostrava a natureza.
As árvores espreguiçavam-se em movimentos morosos; raros pássaros aligeiravam o vôo atravessando a luz vesperal.
Nas alquebradas sombrias crescia a voz das águas borbulhantes, saltando, escachoando de pedra em pedra até fluírem massas sob as pendidas ramas que pareciam tremer de frio.
Longe, na cidade, ressoava o tumulto humano. Grossos rolos de fumo negro subiam nos ares, fundiam-se, dissipavam-se e, à medida que a noite conquistava a paisagem, apontavam pequeninas estrelas esmaltando o céu.
A voz de Maria no fundo da caverna entoava suavemente. Era o encantamento maternal, a mimosa cantilena com que Jesus adormecia.
O patriarca, recolhido em pensamento, olhava, e, como se voltasse para o lado do oriente obscuro, viu um como fúlgido alfanje chamejando na treva.
Tremeu e, fitando o olhar na estranha aparição, notou que avançava no céu vagarosamente.Era uma estrela enorme, de brilho coruscante, que parecia haver atravessado a teia da Via Láctea, tendo dela trazido um rútilo farrapo que a seguia através do espaço.
O astro subia em marcha grave e as demais estrelas esmoreciam à sua passagem como se se retraíssem tímidas.
Pelos caminhos, pelos outeiros homens, mulheres paravam atônitos olhando o prodígio.Alguns, atemorizados, invocavam deuses, rojando-se por terra; crianças choravam espavoridas.
E quando a noite negrejou fechada, o astro, com a flamejante cauda aberta, pairou no céu, sobre a caverna, como uma palma de luz que assinalasse o berço do Messias.