Guardar a compostura.
JOÃO Gomes, pobre velhote tradicional na cidade, rato de cartorio, maestro honorario da philarmonica, atravessou o largo acompanhando um carrinho empurrado de um garoto. Acompanhando... Isto é o que João figurava fazer, porque de facto quem movia o carrinho era elle, João Gomes.
Coisas do mundo! João decahiria do seu pedestal se francamente empurrasse a carreta. Para evital-o, metteu nos varaes o menino. Salvou as apparencias. Não estava a puxar, estava a guiar... Todos viram a tramoia, mas ninguem se chocou, nem murmurou palavra, visto como João fazia a coisa mais agradavel á sociedade: guardar apparencias.
A vida que João leva, o caso do carrinho symboliza. João é pobre, pauperrimo, sempre o foi, mas finge-se remediado e guarda as apparencias desse degráu, gosando a consideração com que a cidade lhe galardoa a longa e innocente mentira.
A fraude suave...
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.