Loterias.


CONTOU-NOS um velho vendedor de loterias coisas curiosas da sua vida de bufarinheiro de esperanças. Desde mocinho só fez aquillo: vender a esperança da riqueza. Já deu duas sortes grandes e varias pequenas. Uma vez...

— Uma vez aconteceu um caso interessante. A sorte andou por cá procurando quem a quizesse. Ninguem a quiz. Vendi todos os bilhetes que tinha, menos um, o premiado. Para não ficar com esse encalhe, dei-o a um compadre meu que seguia para S. José. “Venda-o por lá”. Assim foi. Um sitiante comprou-o no caminho, mas achou feio o numero e vendeu-o a um guarda-livros de lá, muito boa peça, rapaz sério, trabalhador, pae de tres filhos. Nesse mesmo dia sahiu-lhe a sorte, cem contos.

O moço foi ao Rio receber o dinheiro e lá ficou, mezes, a metter o pau no cobre.

Voltou um perdido, um bebado, e hoje anda por aqui, rolando...

— Por aqui? Como se chama elle?

— Pedro. E’ o Pedro Inchado, não conhece?

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.