Balzac.
DESIGUAL, Balzac, e irregular como a propria natureza: caracteristica dos verdadeiros genios. Em "Cousine Bette" ha de tudo — o bom, o mau, o sublime, o mediocre. O remate do romance inspira impetos de arremessar o livro pela janella. Ponson du Terrail puro, e réles. Aquelle typo do Montezanos é operetesco. O de Adelina principia sublime e desfecha no comico. Mas Bette! Que inteiriça, que formidavel creação é! Como lembra Shakespeare! E Valeria, a satanica mme de Marneffe? A scena em que tira da cabeça de Crével a idéa de fornecer os 200.000 francos pedidos pela baroneza de Hulot, é scena-apogeu de que só os grandes são capazes. "Et elle frola le visage de Crével avec ses cheveux en lui tortillant le nez.
— Peut-on avoir un nez comme çà, reprit elle, et garder un sécret, pour sa Vava-lé-lé-ri-rie!...
Vava, le nez allait à droit; lélé, il était à gauche; ririe, elle le remit en place."
Dez paginas que bastam para alicerces duma gloria.
O contraste de Balzac é Zola, typo do talento. Um é chaos; outro, ordem. Um descompassa, desafina, estruge: é natureza, ora céo azul, ora desfeita pela tempestade; outro, sempre sereno, é um eterno jardim, uma "coisa feita", com infinitos de logica, de disciplina e de methodo. Ambos grandes, cada qual da sua grandeza, mas um immenso — Balzac.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.