As garças.


ABRO a janella. Que paizagem! Céu, serra e valle. Céu — gaze de purissimo azul translucido. Serra — a Mantiqueira, rude muralha de saphira. Valle — o do Parahyba, tapete sem ondulações que lhe enruguem o plaino.

Ao longo do valle singra uma pinta branca, vôo lento de giz sobre a imprimadura de anil.

Garça! Reconheço-a logo pela amplidão do vôo. Que maravilha o vôo da garça por manhã assim! Neve sobre azul...

Subito...

— O bando!

Vinham em bando alongado, ora a erguer-se uma, ora a baixar-se outra, estas ganhando a deanteira, aquellas atrazando-se. Passam a kilometro da minha janella, tão nitidas que lhes percebo o afflar das asas. Mas...

— Outro bando! E outro, atrás!

E outro bem ao longe!...

Jamais vi tantas, e em tão formoso quadro. Montavam o rio. Emigravam. Passavam. Passaram... E deixaram-me com a alma tonta de belleza, a sonhar mil coisas, a rever o lindo vôo de cegonhas que Machado de Assis evoca — as cegonhas que das margens do Illyssus partiam para as ribas africanas...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.