A Convicção.


PODE fazer-me o favor? Uma palavra só... disse-me um preto no momento em que eu passava á porta de um botequim. E humilde, e pedinte, fez-me entrar.

— E' uma questão, aqui... Quero que o senhor me diga em que anno foi a liberdade.

Inda na surpreza, titubiei:

— 89 ..

O preto não se atrapalhou.

— 88, não foi mesmo? concertou elle, affirmando perguntativamente.

Cahi em mim e confirmei-lhe o asserto, corrigindo-me:

— E' isso mesmo, 88. 13 de Maio de 88.

— Ahi está! exclamou o preto para o contendor, que não vi, mas vislumbrei sentado a um canto sombrio. O senhor veio decidir uma "questã” que durava ha meia hora. Muito obrigado.

Sahi a philosophar sobre a estranha força das convicções. O negro, com o seu affirmar interrogativo, fôra quem decidira da contenda, mas deu-me as honras de arbitro e lá deixou o adversario esmagado pela sentença que me forçou a proferir.

As nuanças infinitas da arte de affirmar...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.