A gravata.


ACONTECEU-ME coisa assombrosa. Fui á cidade e entrei no Guarany, á espera da rodinha. Pedi café, e mexia-o, quando um rapaz que conheço de vista se approximou e disse-me:

— O senhor esqueceu da gravata, desculpe...

Fiquei vermelho como lacre e com a mão espalmada, em movimento instinctivo, tapei logo o meu crime. Problema sério! Comprar outra, impossivel, era domingo; continuar assim, impossivel, uma degradação. Fugir... Fugi para casa, depressa, depressa. Larguei o café e sahi, qual um criminoso. Tomei o bonde, ultimo banco e lá fui, sempre com a mão a esconder o crime... o horrendo crime, pedacinho de seda que faltava ao collarinho...

E dizemo-nos livres!...

Varias vezes, mais tarde, cruzei-me na rua com o homem do aviso. Cumprimentavamo-nos, sorridentes. Seu sorriso dizia: se não fosse eu... O meu agradecia-lhe, humilde.

Ficamos sendo um para o outro — o caso da gravata.

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.