A idade feliz.


SEMPRE que me vê sentado, a escrever, trepa-me ao collo o Guilherme e fica muito attento a seguir os movimentos da penna sobre o papel.

— E' trem? pergunta.

— Não, filhinho, estou a escrever.

— E' carta?

— E'.

Satisfeita a curiosidade, põe-se a olhar, fungando... De repente, acode-lhe uma idéasita e pede que "escreva um trem". Não ha remedio sinão interromper a carta e pintar um comprido trem de ferro, com innumeros vagões de muitas janellinhas.

Se esqueço a fumaça da locomotiva, reclama-a logo, como reclama rodas e janellas nalgum carro onde as haja de menos.

— Agora, escreva um corvo sentado aqui — e o dedinho gordo aponta a chaminé.

— E um boi aqui. E um gatinho aqui. E um porco...

E o trem vae virando poleiro de bicharia.

No melhor da festa, porém, o seu corpinho molleia, descaem-lhe os braços e todo elle se mergulha num somno de anjo...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.