Melo de Morais Filho — "Artistas do meu tempo", pág. 182.
De origem cigana, Laurindo Rabelo tinha de ser, e era, fatalista. Semanas antes da sua morte, era comum ouvi-lo dizer, com profunda convicção:
— Deixarei de existir no dia e mês em que morreu meu pai.
E assim sucedeu, efetivamente. No dia em que tinha de fechar os olhos, pediu que chamassem um padre, pois desejava receber a extrema unção. Este compareceu, e o poeta, sabendo-o no compartimento anexo, abraçou a esposa, pedindo-lhe:
— Lê para mim a oração dos agonizantes.
E após a leitura, afagando-a:
— É bom que eu morra primeiro, para te ensinar como se morre...