Narrada pelo professor Azevedo Amaral, descendente do velho diplomata.
José Maria do Amaral era a negação a elegância. Mal equilibrado nas pernas fracas, era objeto, não raro, de ironias, a que respondia com espírito.
Era ele ministro do Brasil em Paris, quando foi transferido para a Rússia, sucedendo-lhe chegar a Bruxelas, em trânsito, nas vésperas precisamente de um grande baile oficial.
Nos salões reais, a ministra do Brasil, lindíssima criatura, entendeu de pilheriar com José Maria, e começou:
— É verdade, então, dr. Amaral, que o senhor vai para a Rússia?
— É, minha senhora.
— E como o senhor se arranjará por lá, em uma corte tão exigente? Que fará o senhor, assim tão magro, com essas pernas tão finas, quando tiver de comparecer a uma festa em que os homens tenham que ir de calções?
O velho Amaral não se perturbou; sorriu e, lançando um olhar significativo à linda patrícia, respondeu-lhe, de modo a ser ouvido pelos admiradores mais próximos:
— É simples, minha senhora. Quando eu tiver de ir a uma festa em tais condições, farei o seguinte: caso-me com uma dama tão linda como a senhora, visto-a como a senhora está vestida, e, enquanto os convidados estiverem olhando para as pernas dela não se incomodarão com as minhas!