[Fl. 10-r.][C]omta-sse que hũa vez a aguia, andamdo buscamdo caça pera sseus filhos, achou os filhos da rraposa, e tomou-hos e leuou-hos a hũu ninho hu estauam sseus filhos, e queria-hos matar e dar-lh’os a comer.
Em esto estamdo, chegou a rraposa ao pee da aruor omde a aguya tijnha sseus filhos, e rogaua com doçes palauras que lhe dessem[1] sseus filhos; e a aguya lhe rrespomdeo que lh’os nom queria dar.
E a rraposa, como he muyto maleçiosa, carretou muyta lenha e palha e estopa, e pô-la d’arredor da aruor domde a aguya tijnha sseus filhos, e foy por hũu tiçom e açemdeo o foguo e fez tam gramde fugeyra que os filhos d’aguia[2] estauam em pomto de morte; e a aguya começou a rroguar e a braadar aa rraposa que nom fezesse mays foguo e que lhe queria dar sseus filhos. E per esta guisa a rraposa cobrou sseus filhos.
Em esta estoria o douctor dá emsinamemto[3] aos gramdes homẽes que nom ssejam em todo crueuees, ca os pequenos homẽes de pequena comdiçom podem muytas vezes enpeeçer aos gramdes, e sse lhe nom poderem empeeçer, lhe podem fazer proueyto.
Notas
editar- ↑ No original: «dese<m>». Leite de Vasconcelos explica em nota: «Quem escreveu pôs por equivoco dessem, pensando talvez na aguia e nos filhos, mas vê-se da sequencia das ideias que o sujeito da oração é só aguia.» Contudo, na secção Corrigenda & Addenda, retira esta nota e a substitui por «dessem refere-se á aguia e aos filhos.»
- ↑ =da aguia.
- ↑ Aqui está que riscado; o escriba pô-lo por engano, em virtude do que seguinte.