XXVI. [A rã e o boi]

[Fl. 18-v.][P]om emxemplo este doutor e diz que hũu boy, amdamdo a beber, pose o pee em çima de hũu filho d’hũa rrãa. E a rrãa, veendo esto, assanhou-sse muyto: conpeçou-sse muyto fortemente de jmchar, e queria-sse fazer tam grande como era o boy, pera sse matar com ell.

O filho lhe disse:

— Madre, nom faças[1], ca tu es muy pequena cousa a rrespeyto d’este boy.

A rrãa, polo gram pesar que auia, outra vez muyto mays conpeçou de jmchar. O filho a rreprehemdia, dizemdo:

— Madre, nom te esforçes de te jmchar tanto, ca poderias arrebemtar; e ajmda que te jnches quanto poderes, nunca serás tamanha como o boy.

A terceira vez a rrãa sse jmchou tamto, que arrebemtou pollo uemtre e morreo.




Pom este poeta emxemplo e diz que o homem que he pequeno e de pequena comdiçom nom se deue d’esforçar e querer sseer gramde em fectos[2] e em palauras, mays deue tenperar o sseu coraçom, ssegundo sseu estado rrequere. E a pequena força nom sse deue comtestar com a grande: e sse o faz, he mingua de emtemdimemto. Por a quall rrazom boos homẽes[3] caem em grandes vergonças e dapnos.

  1. I. é: nom faças esto.
  2. Com a abreviatura do costume.
  3. No ms. homees.