O Livro de Esopo/A doninha e o homem

XXV. [A doninha e o homem]

[P]om este doutor emxemplo e diz que hũa donezinha fazia gram dapno em casa de hũu homem bõo. Este homem lhe armou hũu laço e tomou-ha. A donezinha, ueendo-sse em pressa, rrogaua ao homem que lhe nom fezesse mall, e prometia-lhe de guardar bem toda ssua casa, que os rratos nom lhe fezessem dapno.

Ho ho/[Fl. 18-r.]mem[1] lhe rrespomdeo e disse:

— Tu, toda maa maliciosa, ssempre dizes doçes palauras e[2] fazes quamto mall podes; quando tu me podias fazer bem, nom m’o quiseste fazer, e fazias comtrayro. Mas sse os rratos me faziam dapno d’hũa parte, tu m’o fazias da outra muyto peor: e em fazemdo mall, enguordaste com gramde mjnha perda. Pero morrerás, e sserey sseguro de ty.

E dictas[3] as palauras, matou-ha.




Pom este poeta este emxemplo e diz que o seruiço que sse faz de uoomtade, aquelle he bem fecto[4]. E o sseruiço que sse faz per força, nunca he bem fecto[5]. Ssolamente a boa voomtade he aquella que adorna o boo seruiço; e nom sse deue tamto d’esguardar ao proueyto do seruiço, quanto sse deue louuar a boa emtençom d’aquell que o faz.

Notas editar

  1. No começo da fl. 18 repete-se o ho- da antecedente; a linha começa pois por homem.
  2. O ms. tem a por e. Comquanto em português se possa encontrar em certos casos a<>e, não hesitei em fazer neste caso a substituição.
  3. Com a abreviatura costumada.
  4. Com a abreviatura costumada.
  5. Com a abreviatura costumada.