XVIII. [O calvo e a mosca]

[Fl. 13-r.][P]om este doutor emxemplo, e diz que hũu velho estaua ao ssoll com a cabeça[1] calua e descoberta, e hũa mosca o mordia na calua; e quamdo o uelho queria dar na mosca, daua na calua. E a mosca tornaua a morder o uelho na calua, e o caluo ssempre daua em ssy com a mãao e nom podia dar na mosca. E assy fez pe[r][2] muytas uezes. O uelho lhe disse:

— Tu cuydas a brincar comiguo, e escarneçes de mym quando eu dou com a minha mãao na calua! Eu te diguo que por dar dez uezes na mynha calua nom me dá nada, ca me nom dooe; mays sse hũa uez te der, tu morrerás: pero aue ssiso e farás de tua proll.

A mosca ouue medo e partio-sse do uelho.




Per este emxemplo este doutor nos amostra que a emjuria a uergonça nom he d’aquell que a rreçebe, mays he d’aquelle que a faz, e nhũu nom deue brincar com alguem ssem voomtade, ca rrazom mostra que rreçeba mal aquell que com outrem quer trebelhar comtra sseu talamte, pois o trebelho nom lhe praz.

  1. No ms. cabeca.
  2. No ms. pe (esqueceu cortar o p)