[C]omta-sse que hũu laurador ssemeou linho em hũu campo. E a amdorinha, quamdo esto vio, fez ajumtamento com quamtas aues pôde auer e disse-lhe:
— Ueedes uós este linho que aquy he ssemeado? Elle será aazo de nossa morte. Vós fazede [e]m[1] tall guysa destroyr a ssememte amtes que /[Fl. 35-v.] naça, ca este vilaão quer fazer d’aqueste linho rredes e laços pera nos tomar em elles; e esto ssey eu porque durmo em ssua casa, e nom sse guarda de mym, e diz esto.
E as outras aves ouuerom-na por ssamdia, e escarneçiam d’ella.
Depois a pouco tempo, o linho começou de creçer. E a amdorinha chamou outra vez as aues e disse-lhe que, pois nom quyserom comer a ssememte, que em toda guisa ho fossem dapnar com os pees amte que mays creçesse. E as aues outra uez escarneçerom d’ella e nom o quyserom fazer.
Depoys que o linho foy gramde, fez[2] d’elle rredes e laços e tomaua muytas aues. Depoys as aues sse rrecordarom do comsselho da amdorinha, e diziam:
— Myzquynhas! Nós nom quisemos creer ao bõo comsselho da andorinha!
Em aquesta estoria o doutor nos emsina que [a]uemos[3] seer auysados do tempo que ha d[e] uĩjr[4], e nom deuemos de despreçar o bõo comsselho de nhũa perssoa[5], por pequena que sseia; outrossy nom deuemos estar sseguros das cousas que ssom prijgosas, que aqueles que muyto se fiam, algũas vezes ficam emguanados.