56 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

Tínhamos completado a ponte provisória sobre o Rio dos Papaguayos, e agora devíamos passar com a locomotiva sobre ela pela primeira vez. A pontezinha tinha doze metros de altura e quando se olhava lá para baixo parecia bem desagradável. Só que há um problema com uma nova ponte de madeira. Quando a locomotiva passa sobre ela pela primeira vez, os tarugos se acomodam naturalmente nos buracos e por isso fazem um rangido. O maquinista Jorge coçou atrás da orelha, deu uma cusparada na água em forma de um grande arco e disse “pistola”; mas ainda não pôde cruzar a ponte, pois esta não estava completamente concluída e estavam trabalhando com muita pressa. No dia seguinte chegaram o engenheiro-chefe, o engenheiro substituto, o diretor e mais alguns graúdos da companhia, os quais queriam acompanhar o grande acontecimento da primeira viagem, a fim de depois terem a oportunidade de bater um papo inteligente, discursar bastante e tomar muito champanhe no inevitável banquete. O grande dia começou. Tudo estava pronto. O trem extra com os convidados importantes chegou, parou perto da ponte, manobrou suavemente para trás e nossa menor locomotiva com Jorge Pistola no lugar mais importante engatou-se no trem. O chefe me solicitou que instruísse Jorge mais uma vez e mandou chamá-lo. Ele estava radiante de alegria. Agora começou uma advertência. “Arranque bem devagar, pare um instante sobre a ponte, então devagar — compreendeu? DE-VA-GAR — continue, e só quando o último vagão estiver em cima da ponte você poderá acelerar”. Jorge disse: “Pistola! Isso é fácil e tudo será feito!”. Eu quis ficar na locomotiva por uma questão de segurança, mas o chefe quis me ter por perto, pois tinha muitas perguntas para fazer e não eram frequentes as suas vindas até aqui. Todos se instalaram e a viagem começou. A ponte tinha setenta e dois metros de comprimento. Quando a locomotiva estava passando pelo primeiro terço começou um rangido do madeirame que se comprimia em seus encaixes; também foi sentida uma leve oscilação, pois a locomotiva comprimia algumas partes. Todos os rostos mostravam uma reação de tensão, por mais que não quisessem demonstrar. O chefe explicou, mas no bufar da locomotiva e no ranger da ponte