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Nossos Espanhóis


Na construção da estrada de ferro de Serrinha à Restinga Seca,[1] empregamos principalmente italianos e poloneses, além de um pequeno grupo de portugueses e espanhóis. O trabalho era feito em empreitadas, contratando o mesmo grupo somente por alguns quilômetros de cada vez, pois nós tínhamos tido experiências ruins com grandes empresas.

Eu era mestre de obras do terceiro trecho e enquanto durasse o trabalho moraria na casa abandonada de um fazendeiro. Era baixinha, feita de barro e em vez de janelas possuía apenas uns buracos; os pequenos quartos não tinham nem piso, nem forro. As camas (havia armações de cama de verdade) eram excelentes. Eram armações de madeira bruta, forradas com tiras cruzadas e trançadas de couro cru. Estas tiras são retiradas úmidas e então secam esticadas de modo que adquiriam uma ótima elasticidade. Uma camada de palha e uma esteira por cima e estava pronta a melhor cama!

Era domingo e eu me entreguei aos meus raros prazeres, me esticar na minha “cama luxuosa” depois do almoço e fumar um cigarro. Em dias de trabalho, a jornada não nos permitia tal desperdício de tempo; pois se estava quase ininterruptamente na sela ou na prancheta. Então pude ouvir palmas diante da porta. Mas não me importei; porque meu camerada deveria estar ali e ir ver. No entanto parecia que ele não estava no seu posto. Pois outra vez alguém bateu palmas e chamou: “Ó dono da casa!” Então eu mesmo levantei e fui abrir a porta.



  1. Ramal da Estrada de Ferro São Paulo — Rio Grande (EFSPRG). (NdH)