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A dança do destino
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A morte aproximava-se, estendendo a sua negra aza sobre o pobre corpo que em breve levaria...

Rompia a madrugada. No quarto só se ouvia a respiração opressa da enferma e os soluços mal contidos da alanceada mãe.

Um clarão azulado envolvia o leito branco e virginal.

Evolavam-se fragrancias de jasmins, que entravam pela janela mal cerrada do gabinete proximo, e os passaros chilreava alegres, lá fóra...

Ela, agora, olhava a mãe fixamente, segurando- lhe a mão entre as suas mãosinhas emagrecidas e transparentes.

— Olha, murmurava ela, ahi vem o sol. Eu gosto tanto d'êle!...

E envolvia-a no seu olhar doce e já embaciado pela morte.

— Não chores, mamã, — continuava — Beija-me... mamã...

Um tremor de palpebras, nma lagrima deslisando nas faces emagrocidas, e assim se extinguiu a pobre Lia.

A alma luminosa e pura elevou-se nas suas azas brancas, ao primeiro raio de sol d'essa madrugada fragrante, o lá foi para as regiões do misterio, onde encontrou o seu colar de perolas nas lagrimas compadecidas da Virgem, que a aguardava.

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Quando o pequeno caixão sahiu a porta, a mãe, de olhar desvairado, cahiu desmaiada nos braços da cunhada, que exclamava, perturbada e confusa: