eu vivo só para a tua memória!...” – pensou ela. E depois, por entre dentes:

– Parece que ela está fazendo de propósito... mas comigo não se brinca!

Feliciano rondava a cena, disfarçadamente, polindo com um trapo de camurça os trastes já polidos. Fora por manha que entreabrira a porta da sala, quase sempre fechada, bem em frente ao retrato da morta e, sem parecer olhar, ele vigiava todos os movimentos da baronesa. Ela tremia de raiva por não ver chegar a menina.

– Ora já se viu uma coisa assim! Querem maior provocação! – e, apontando para o relógio: – Há mais de cinco minutos! Isto não pode continuar... Está bonito!

E imperativamente, furiosamente:

– Feliciano?!

– Senhora?

Apesar da sua máscara de seriedade, percebia-se que o negro estava por dentro contentíssimo.

– Diga a d. Glória, uma vez por todas, que venha já ou que eu vou buscá-la pelas orelhas!

Feliciano quis prolongar aquele desespero e arrastou os movimentos, calculando o tempo para maior acumulação de ódio; mas a baronesa, impaciente, passou-lhe a dianteira e caminhou pelo corredor para o quarto da governanta.

“É agora!” – pensou o negro, encostando-se a um umbral, para ver.