– Viste?

– Vi! Um dia fui chamado a levar socorros espirituais a um doente. Era a paralítica. Foi junto à sua cadeira de rodas, que o marido me contou toda a história de d. Alice. Conheciam-me de nome e preferiram-me a outro padre qualquer, exatamente para me falarem dela, e pediram-me que a protegesse! O velho tinha medo; conhecia as tentações do mundo e a fraqueza das mulheres... queria ouvir da minha boca palavras que o sossegassem. Sosseguei-o. No dia seguinte voltei, a saber da paralítica; tinha melhorado. Estava eu lá, quando, percebendo os passos de d. Alice, os velhos suplicaram-me que me ocultasse. Ela ficaria vexada se me visse ali; ocultei-me. Foi no meu esconderijo que assisti à cena de humilhações a que me referi. Não tinham bastado as minhas afirmações; o cego apalpou nervosamente os dedos, os pulsos, as orelhas da moça, à procura da jóia comprometedora... A paralítica pediu-lhe guloseimas. Enjoara tudo. Morria de fraqueza... Agora, senhora baronesa, creio que não preciso dizer mais nada...

O barão levantou-se:

– Luiza, não te parece que devemos pedir perdão a essa senhora?

Mas a mulher não respondeu. Parecia petrificada no seu lugar, com os olhos fitos no retrato mudo da filha.