desceu à sala onde Maria arranhava o teclado com uma fúria de gata brava. Encostou-se ao piano, ouvindo as desarmonias daquela criança, em que ele sentia um vago perfume da saudade materna. Quão diferente fora a mãe, toda delicadeza e graça, do que era agora a filha! Na penumbra da sala reconstrói-se-lhe o vulto airoso e fino, que os bandós loiros iluminavam de uma luz branda, de sol de primavera.
Que linda a vira naquela mesma sala àquela mesma hora...
Maria levantou-se com ímpeto. O padre Assunção atraiu-a a si e beijou-a na testa, com infinita ternura.
– O senhor está trêmulo. Onde está papai?
– Teu pai saiu. Manda acender o gás da saleta e convida d. Alice para vir passar o serão conosco.
– Não gosto dela...
– Por quê?
– Não sei... e o senhor?
– Eu gosto de toda a gente, minha filha... de uns mais... de outros menos, mas não quero mal a ninguém. Vai pedir a d. Alice, com muito bom modo, que nos faça o favor da sua companhia por umas duas horas...
– Papai foi ao teatro?
– Não.
– Onde foi?