margens resplandeciam de palacios e de jardins; as barcas, com toldos de sêda, vogavam ao som dos alaúdes; os sacerdotes d’Osiris, cobertos de pelles de leopardo, dançavam sob os laranjaes; e nos terraços abrindo os véos, as damas d’Alexandria bebiam á Venus Assyria, pelo calice da flôr do lotus. Uma voluptuosidade esparsa amollecia as almas. Os philosophos mesmo eram frascarios.
— E, dizia Topsius requebrando o olho, em toda a Alexandria só havia uma dama honesta que commentava Homero e era tia de Seneca. Só uma!
Maricoquinhas suspirava. Que encanto, viver n’essa Alexandria, e navegar para Canopia, n’uma barca toldada de sêda!
— Sem mim? gritava eu, ciumento.
Ella jurava que sem o seu portuguezinho valente não queria habitar nem o céo!
Eu, regalado, pagava o champagne.
E os dias assim foram passando, leves, flaccidos, gostosos, repicados de beijos — até que chegou a vespera sombria de partirmos para Jerusalem.
— O cavalheiro, dizia-me n’essa manhã Alpedrinha engraxando os meus botins, o que devia era ficar aqui na Alexandriasinha, a refocilar...