Ás vezes, porém, uma saudade fina e gostosa, vinda do remoto Passado, levantava de leve a minha alma, como uma aragem lenta faz a uma cortina muito pesada... E então, fumando diante das tendas, trotando pelo leito sêcco das torrentes, eu revia, com deleite, pedaços soltos d’essa Antiguidade que me apaixonára: — a Therma romana onde uma creatura maravilhosa de mitra amarella se offertava, lasciva e pontifical; o formoso Manassés levando a mão á espada cheia de pedrarias; mercadores, no Templo, desdobrando os brocados de Babylonia; a sentença do Rabbi com um traço vermelho, n’um pilar de pedra, á porta Judiciaria; ruas illuminadas, gregos dançando a callabida... E era logo um desejo angustioso de remergulhar n’esse mundo irrecuperavel. Coisa risivel! eu, Raposo e bacharel, no farto gozo de todos os confortos da Civilisação — tinha saudade d’essa barbara Jerusalem que habitára n’um dia do mez de Nizam, sendo Poncius Pilatus procurador da Judêa!
Depois estas memorias esmoreciam como fogos a que falta a lenha. Na minha alma só restavam cinzas — e, diante das ruinas do monte Ebal ou sob os pomares que perfumam Sichem a Levitica, recomeçava a bocejar.