A Firma considerou-me um momento mordendo o beiço:
— Pois olha, Raposo, calha-me essa franqueza!... Eu gósto de gente lisa... O outro velhaco, que estava ahi a essa carteira, diante de mim dizia: «Grande homem, o Papa!» E depois ia para os botequins e punha o Santo Padre de rastos... Pois acabou-se! Não tens religião, mas tens cavalheirismo... Em todo o caso, ás dez no Central para o almocinho, e á vela depois para a Ribeira!
Assim eu conheci a irmã da Firma. Chamava-se D. Jesuina, tinha trinta e dois annos e era zarôlha. Mas, desde esse domingo de rio e de campo, a riqueza dos seus cabellos ruivos como os d’Eva, o seu peito solido e succulento, a sua pelle côr de maçã madura, o riso são dos seus dentes claros — tornavam-me pensativo, quando á tardinha, com o meu charuto, eu recolhia á Baixa pelo Aterro, olhando os mastros das falúas...
Fôra educada nas Selesias: sabia Geographia e todos os rios da China, sabia Historia e todos os reis de França; e chamava-me Theodorico-Coração-de-Leão, por eu ter ido á Palestina. Aos domingos agora eu jantava na Pampulha: D. Jesuina fazia um prato d’ovos queimados: e o seu olho vesgo pousava, com incessante agrado, na minha face