Sara encerrou-se no seu quarto. Sentia-se atordoada e opressa. Esteve longo tempo à janela com os olhos parados no azul acinzentado do mar.
A pouco e pouco via esclarecidas muitas passagens de outrora: frases irônicas e secas de Luciano, atitudes constrangidas da mãe e mesmo certos ditos levemente maliciosos da Georgina, que tinha sido, como sempre, muito mais perspicaz do que ela...
Isso tudo vinha-lhe à memória demoradamente, como se umas coisas arrastassem outras.
Mas afinal, o que tangia com mais dor no seu coração, eram aquelas pungentíssimas palavras da mãe, referindo-se à antiguidade do seu afeto: "Quando eu te gerei, quando te sentia nas minhas entranhas ou que te suspendia no meu seio, ele já palpitara em mim com o mesmo fogo, com a mesma violência!"