- Pois não vê, Ernestina, que se eu odeio a filha, é porque adoro a mãe?! Perdoe as minhas palavras, são filhas do ciúme violento, tenaz, que se apoderou de mim desde que vi Sara! Ela é a continuação do pai, o beijo vivo, ardente, trocado pelas vossas bocas! E é essa idéia que me martiriza e que me perde!
- É uma... insensatez...
- Chame como quiser.
Nessa tarde Ernestina lembrou à filha que fosse passar parte da noite em casa da Gina.
- Mamãe vai?
- Eu não.
A filha admirou-se; até então a mãe não a deixara nunca sair só!
O luar inundava a terra coro a sua luz veludosa. Pelas portas de vidro, fechadas ao frio, via-se lá embaixo a cidade, com umas luzes frouxas.
Sara tinha saído; Ernestina e Luciano, sentados junto a uma janela da sala, conservaram-se por instantes silenciosos, pensando talvez nos primeiros elas do seu amor, desabotoado e esquecido em plena mocidade.
- Dizem os psicólogos que duas criaturas que se amaram e que se esqueceram mutuamente não se tornam a amar nunca mais!
- Bravo! Não a imaginava tão letrada!... mas fique certa de que a psicologia é uma palavra tão enganadora como outra qualquer...