Da sua grande tela sombria, o marido parecia acompanhá-la com a vista.
Ernestina sentiu vergarem-se-lhe os joelhos e tateou com mão trêmula o fecho da porta por onde saiu.
Nessa noite não pôde conciliar o sono. No quarto tudo lhe falava do marido.
A cama parecia-lhe guardar o calor do seu corpo; os lençóis o as fronhas eram marcados com o seu nome, e o cabide em que ele costumava pendurar a roupa estendia para ela os braços nus...
Ernestina revolvia-se no leito, sem descanso. Sem perceber como, com a convivência adquirira certos hábitos do esposo; procurava agora um meio de os corrigir. Só agora notava que era como o dele o jeito porque cerrava o cortinado, sempre de um lado só; que fora com ele que se viciara em não adormecer sem tomar uns goles de água açucarada, e que até os seus gestos, as suas palavras e o seu modo de pensar refletiam particularidades dele.
Sem poder dormir e muito impressionada, passou ao quarto da filha. Sara dormia profundamente, respirando alto, com os braços sumidos embaixo da roupa e a sua cabeça redonda e grande enterrada no travesseiro.
Ernestina, a tremer de frio, deitou-se aos pés da cama, muito devagarinho, encolhendo-se para diminuir de volume.