dizem os velhos, degeneraram desde o Constitucionalismo e o Parlamentarismo. Depois desses enxertos funestos no velho tronco lusitano, os frutos têm perdido o sabor, como os homens têm perdido o caráter... »
Só uma ocasião, nesta especialidade considerável, o vi plenamente satisfeito Foi numa taverna da Mouraria (onde eu o levara), diante dum prato complicado e profundo de bacalhau, pimentos e grão-de-bico. Para o gozar com coerência, Fradique despiu a sobrecasaca. E como um de nós lançara casualmente o nome de Renan, ao atacarmos o pitéu sem igual, Fradique protestou com paixão: —Nada de ideias! Deixem-me saborear esbabacalhoada, em perfeita inocência de espírito como no tempo do Senhor D. João V, antes da Democracia e da Crítica!
A saudade do velho Portugal era nele constante: e considerava que, por ter perdido esse tipo de civilização intensamente original, o mundo ficara diminuído. Este amor do passado revivia nele, bem curiosamente, quando via realizados em Lisboa, com uma inspiração original, o luxo e o «modernismo» inteligente das civilizações mais saturadas de cultura e perfeitas em gosto. A derradeira vez que o encontrei em Lisboa foi no Rato—numa festa de raro e delicado brilho. Fradique parecia desolado:
—Em Paris—afirmava ele—a duquesa de La Rochefoucauld-Bisaccia pode dar uma festa igual: e para