Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/33

sob polainas de linho. A face era do feitio aquilino e grave que se chama cesariano, mas sem as linhas empastadas e a espessura flácida que a tradição das Escolas invariavelmente atribui aos Césares, na tela ou no gesso, para os revestir de Majestade; antes pura e fina como a dum Lucrécio moço, em plena glória, todo nos sonhos da Virtude e da Arte. Na pele, duma brancura láctea e fresca, a barba, por ser pouca decerto, não deixava depois de escanhoada nem aspereza nem sombra; apenas um buço crespo e leve lhe orlava os lábios que, pela vermelhidão úmida e pela sinuosidade subtil, pareciam igual e superiormente talhados para a Ironia e para o Amor. E toda a sua finura, misturada de energia, estava nos olhos—olhos pequenos e negros, brilhantes como contas de ônix, duma penetração aguda, talvez insistente de mais, que perfurava, se enterrava sem esforço, como uma verruma de aço em madeira mole.

Trazia uma quinzena solta, duma fazenda preta e macia, igual à das calças que caíam sem um vinco: o colete de linho branco fechava por botões de coral pálido: e o laço da gravata de cetim negro, dando relevo à altura espelhada dos colarinhos quebrados, oferecia a perfeição concisa que já me encantara no seu verso

Não sei se as mulheres o considerariam belo. Eu achei-o um varão magnífico — dominando sobretudo por uma graça clara que saía de toda a sua força máscula.