especial, um pouco altivo, talvez estreito, de nos considerarmos dois puros espíritos. Se eu então concebesse uma Filosofia original ou preparasse os mandamentos duma nova Religião, ou surripiasse à Natureza distraída uma das suas secretas Leis de preferência escolheria Fradique como confidente desta atividade espiritual; mas nunca, na ordem do Sentimento, iria a ele com a confidência duma esperança ou duma desilusão. E Fradique igualmente manteve comigo esta atitude de inacessível recato—não se manifestando nunca aos meus olhos senão na sua função intelectual.
Muito bem me lembro eu duma resplandecente manhã de Maio em que atravessávamos, conversando por sob os castanheiros em flor, o jardim das Tulherias. Fradique, que se encostara ao meu braço, vinha vagarosamente desenvolvendo a ideia de que a extrema democratização da Ciência, o seu universal e ilimitado derramamento através das plebes, era o grande erro da nossa civilização que, com ele, preparava para bem cedo a sua catástrofe moral... De repente, ao transpormos a grade para a Praça da Concórdia, o Filósofo que assim lançava, por entre as tenras verduras de Maio, estas predições de desastres e de fim— estaca, emudece! Diante de nós, ao trote fino duma égua de luxo, passara vivamente, para os lados da Rua Royale, um cupé onde entrevi, na penumbra dos cetins que o forravam, uns cabelos cor de mel. Vivamente também, Fradique sacode o meu