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a curiosidade e atividade crítica dos seus derradeiros anos. De sorte que dele bem se pode dizer que foi o devoto de todas as Religiões, o partidário de todos os Partidos, o discípulo de todas as Filosofias—cometa errando através das ideias, embebendo-se convictamente nelas, de cada uma recebendo um acréscimo de substância, mas em cada uma deixando alguma coisa do calor e da energia do seu movimento pensante. Aqueles que imperfeitamente o conheciam classificavam Fradique como um diletante. Não! essa seria convicção (a que os Ingleses chamam earnestness), com que Fradique se arremessava ao fundo real das coisas, comunicava à sua vida uma valia e eficácia muito superiores às que o diletantismo, a diversão céptica que tantas injúrias arrancou a Carlyle, comunica às naturezas que a ele deliciosamente se abandonam. O diletante, com efeito, corre entre as ideias e os fatos como as borboletas (a quem é desde séculos comparado) correm entre as flores, para pousar, retomar logo o voo estouvado, encontrando nessa fugidia mutabilidade o deleite supremo. Fradique, porém, ia como a abelha, de cada planta pacientemente extraindo o seu mel:—quero dizer, de cada opinião recolhendo essa «parcela de verdade» que cada uma invariavelmente contém, desde que homens, depois de outros homens, a tenham fomentado com interesse ou paixão.

Assim se exercia esta diligente e alta Inteligência. Qual era, porém, a sua qualidade essencial e intrínseca?