— Os portugueses nasceram só para isso; eu tenho outros gostos e outras aspirações. Meu pai não me compreende.
— Mas o dinheiro que esbanjas de quem é?!
— Ah, o dinheiro! logo vi que havia de ser por causa do dinheiro! disse ele com redobrado escárnio.
— Por isso e por outras coisas; exclamou Camila, espicaçada pela ironia do filho.
— Mas que outras coisas, mamãe!? retrucou ele, plantando-se diante dela, com raiva.
— Já te disse, já te disse! não te finjas de surdo! Por causa da tua saúde, que é fraca, e da tua reputação.
— Reputação! ora, mamãe, e é a senhora quem me fala nisso!
Camila estacou, sem atinar com uma resposta, compreendendo o alcance das palavras do filho. A surpresa paralisou-lhe a língua; o sangue arrefeceu-se-lhe nas veias; mas, de repente, a reação sacudiu-a e então, num desatino, ferida no coração, ela achou para o Mário admoestações mais ásperas. Percebia que a língua dizia mais que a sua vontade; mas não podia contê-la. A dor atirava-a para diante, contra àquele filho, até então poupado.