Reboaram os primeiros trovões, com enorme estampido; um ziguezague de ouro cortou o espaço negro, e à luz branca de um relâmpago a casaria muda bailou macabramente com o arvoredo escuro.
A convulsão passou, para voltar depressa; na fosforescência móbil e ofuscante da luz, todas as coisas tomavam proporções extraordinárias, mas logo, nos intervalos, a treva da noite mais se condensava.
Aplacou-se o vento, e então, só de um jato, a chuva caiu, pesada, brutal, ensurdecedora.
A água borrifava a janela. Nina procurou um chale, envolveu-se e voltou. Era tempo: através das torrentes da chuva, viu tremeluzir indistinta no véu fosco das águas, a lanterninha de um tílburi.
Debruçada, alongando a cabeça, a moça gritou:
— Mário! Mário!
Mas a sua voz fraca perdia-se no dilúvio.
O primo abria o portão; ela tentou ainda dizer-lhe que voltasse, que o pai lhe trancara a porta; mas a lanterninha do carro movia-se já na sombra, ia-se embora.
Nina voltou para dentro, acendeu a vela e esgueirou-se para o corredor.