O capitão Rino olhava para toda aquela gente, marinheiros, soldados, vadios e trabalhadores braçais, negros ou portugueses, uma população de homens apressados, sem lhe fixar o desalinho do gesto ou a preocupação das vistas abrasadas. Eram homens, passavam em repelões, pensando no ponto da chegada. Ele ouvia-lhes a respiração, a ofegância dos peitos cansados e a cadência dos passos batendo dominadoramente as pedras duras do chão.
Aquele ruído era sempre para ele uma música de sonoridade nova.
Entrou na rua da Prainha, tomou depois a da Saúde, sem notar o aspecto desigual da casaria, os negros trapiches tresandando a sebos de carnes e meladuras de açúcar esparramadas no solo, onde moscas zumbiam desde a porta da rua até lá ao fundo do armazém, aberto para um quadro lampejante de mar.
Os trapiches sucediam-se, repletos de barricas, de sacos, de fardos e de pranchões, enchendo o ar de um cheiro complexo, que a maresia levava de mistura, e de sons ásperos dos guindastes, suspensos sobre balanças. Lanchas passavam perto em roncos e silvos entrecortados, e aquela confusão louca de vozes, que lhe era familiar, dava-lhe agora a impressão de que a terra se debatia num delírio de febre.