Vira de relance a tia e o primo embaixo dos tamarineiros, e fugira depressa da janela da copa para o terraço, com medo de perceber-lhes nos gestos a expressão exata das palavras que diziam. Adivinhava a verdade, mas temia ouvi-la, porque essa verdade não a magoaria só, ofende-la-ia também. Era como que um ultraje à sua mocidade outoniça, à sua pobreza e à sua fé no amor. Sentia-se predestinada a ser na vida uma espectadora da ventura alheia, e uma revolta de sentimentos dava-lhe desejos maus.
A tia, contra o dever, não amava, não era amada, não sacrificava tudo pelo perfume de uma palavra amorosa, pela loucura divina de um beijo? Aquele livro de paixão, tão imprudentemente aberto diante dos seus olhos, não a fizeram por tantas vezes estremecer de inveja e sonhar com as delícias do amor?
Até ai respeitara aquela paixão, sentia-a sincera, fazia-se cega, apiedada daquelas almas felizes. Agora tinha ímpetos de se vingar, de arrancar das mãos do tio o jornal, de gritar-lhe com toda a força a história daqueles amores que a humilhavam, porque entre ela e a tia, não era a outra, casada e mie, mas sim ela, órfã e virgem, quem tinha direito àquela felicidade de amar e de ser amada...