Na sua salinha da rua Funda, estendido no velho canapé empoeirado, seu Mota, emagrecido, com a barba crescida, as faces chupadas, olhava para as moscas que zumbiam, negrejando na cal da parede encardida.
Lá dentro, a filha cortava o silêncio de vez em quando com as suas passadas vagarosas, em que se sentia o cansaço.
Tinha razão: era só para tudo. O pai, apesar da impertinência da moléstia e das suas exigências de homem amigo da limpeza, resignava-se quase sem protestos àquela imundície em que se ia encharcando. Certo, que isto de se dizer que uma mulher pode fazer todo o serviço sem se enxovalhar, é coisa de romance. A Emília andava com as mangas e o avental sujos de carvão, tinha as unhas impregnadas do cheiro da cebola e do alho; e as mãos, avermelhadas pelo uso do sabão da terra com que esfregava a roupa, tinham perdido o jeito para a carícia doce, macia, tão querida das crianças e