mais precavido e mais forte; afinal era um bobo. Se tivesse o seu dinheiro aferrolhado, acontecer-lhe-ia aquilo? não. Morreria de velho, deixando testamento.
Sempre pensara que ele havia de deixar testamento; seria então uma cerimônia completa e bonita, bem certo é que o dinheiro dá prestígio a tudo.
Empobrecer... suicidar-se, quem diria? um português, um homem conservador e acostumado ao trabalho! Ainda o maior crime não estava em suicidar-se, estava em empobrecer, em deixar a família na miséria.
Na sociedade há só uma coisa ridícula: a pobreza. Vejam se os jornais inscrevem o nome dos miseráveis que vão para a vala.
Pois sim! Dizem que o dinheiro não vale nada, mas só dão notícia dos mendigos que deixam moedas de ouro entre as palhas podres do colchão...
D. Itelvina relanceou os olhos pela sala e considerou-lhe o luxo, com asco. A seu lado caíam as dobras fartas de um reposteiro de veludo lavrado; ela apalpou-o, sentindo com um arrepio o pelo do cetim do forro agarrar-se-lhe à pele áspera dos dedos.
— Foi por estas e por outras! murmurou ela de si para si.